quinta-feira, 10 de abril de 2025

E se você fosse o leão?

 



“A gente aprendeu que tem que matar um leão por dia.

Mas ninguém avisou que isso nos tornaria leões também.
Violentos, apressados, sem escuta.”

“Dylan escreveu sobre entrar no coliseu.
Lá dentro, ele não matou os leões.
Ele viu o tempo passar, e domou os próprios monstros.
Isso me atravessou como um raio.
Porque é isso: o leão não está lá fora. Tá aqui dentro.”


“Um homem caminhava todos os dias pela mesma estrada.
Carregava nos ombros a obrigação de matar um leão por dia.
Disseram pra ele que era isso que homens de verdade faziam.

Levanta, luta, vence.

Ele acreditou.
E assim foram dias... semanas... anos.”


“Até que um dia, exausto, entrou no velho coliseu esquecido pelo tempo.
Ninguém o perseguia. Ninguém o aplaudia.
Ele apenas entrou...
E se sentou.”

“Lá dentro, havia muitos leões.
Mas eles não estavam rugindo.
Estavam deitados. Observando.
Como se também estivessem cansados daquela dança absurda de sangue e glória.”

“O homem respirou.
Olhou nos olhos do primeiro leão.
E entendeu algo:
aquele leão... era ele mesmo.
Suas raivas, suas dores, seus medos…
Todos tinham forma felina.”


“O tempo passou. Muito tempo.
Ninguém sabe quanto.
Só se sabe que, ali dentro, ele aprendeu a ouvir o silêncio.
E em algum momento, lembrou de Daniel.
O outro homem que entrou numa cova cheia de leões…

E saiu de lá sem um arranhão.”

Daniel 6;22 "O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca aos leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dele; também contra ti, ó réi, não cometi delito algum."


“Mas não foi mágica.
Foi escuta. Foi presença.

Foi entrega.”  

“Em outro tempo, outro homem — um que escrevia músicas — também entrou num coliseu.
Ele cantou sobre isso:
sobre domar o tempo…
sobre ver as horas passarem sem medo…
sobre fazer alquimia com o caos.”

“Chamavam esse homem de Dylan.
Mas podia ser qualquer um de nós.”


“E o primeiro homem?

Dizem que um dia ele saiu do coliseu.
Mas já não era o mesmo.
Caminhava mais leve.
Não carregava mais espadas.
E quando perguntavam o que ele fazia da vida, ele sorria:
Eu escuto meus leões.



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