Toda vez que Aderbal publica um texto pedindo o fim da polarização política, o Brasil parece se dividir ainda mais. Seu apelo é simples: “Amo meu país, independente de quem esteja na presidência.” Mas essa simplicidade é justamente o que escapa à maioria. O que ele propõe — amar o Brasil acima das disputas — soa quase utópico num país onde o debate virou duelo, e o argumento virou arma.
A imagem que ele constrói é a de um Brasil sequestrado por dois polos que se odeiam mais do que amam a própria terra. E nesse campo minado, qualquer tentativa de neutralidade é vista como traição. Aderbal não está pedindo indiferença, mas lucidez. E isso, por aqui, é artigo de luxo.
Foi nesse cenário que entrei, não para debater, mas para fugir. Disse que evito esse tipo de conversa para preservar minha saúde mental. Mas não resisti à tentação de lançar uma chave de leitura: o Macunaíma que habita o inconsciente coletivo brasileiro. O herói sem caráter, esperto, ambíguo, que ri da própria tragédia e transforma tudo em jeitinho.
Essa polarização burra — como a chamei — não é só política. É sintoma de uma construção social frágil, onde o debate público nunca se firmou como espaço de escuta, mas como palco de vaidades. Está tudo lá, descrito por Machado de Assis com sua ironia cirúrgica, e por Roberto Schwarz com sua crítica à ideologia fora do lugar.
O Brasil é potência, sim. Mas é também atraso. É genialidade e disfuncionalidade convivendo na mesma esquina. E talvez seja por isso que, mesmo quando tentamos fugir do debate, acabamos contribuindo para ele — com literatura, com dor, com esperança.
Porque no fundo, como diria o próprio Macunaíma: “Ai, que preguiça.” Mas seguimos.
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