Hoje fui lembrado de uma das cenas mais emblemáticas do cinema: o momento em que o rei Leônidas, no filme Trezentos, está prestes a tomar uma atitude radical — e antes de fazê-lo, olha para sua esposa. Ela, em silêncio, chancela com um leve gesto de cabeça. É o bastante. Ele age.
Aquilo ficou na minha cabeça por dias.
Naquela cena, o que se vê não é uma relação de submissão ou hierarquia. É cumplicidade. Leônidas não pede permissão — ele busca respaldo. E o que ele encontra ali é exatamente o que todo guerreiro precisa antes da batalha: um olhar que diga “estou contigo”.
Volto ao presente. Recentemente, enfrentei uma situação frustrante no meu trabalho. Fui ao campo para executar um serviço, como sempre faço com responsabilidade. Mas o terreno estava completamente intransitável. O cliente, além de não ter cumprido o combinado, ainda exigia que eu voltasse para tentar novamente, sem ter sequer me pago.
Recusei. Tracei um limite. Não por orgulho, mas por respeito — a mim mesmo, ao meu tempo, ao meu ofício. Esperava que, ao chegar em casa, encontraria um gesto de compreensão, talvez um “você fez certo”. Mas recebi julgamento. Críticas. A sensação era de estar sendo desqualificado justo por quem deveria me fortalecer.
É nessas horas que a gente sente o peso do olhar que falta.
Ninguém carrega o mundo sozinho. Não é fraqueza desejar apoio — é humano. Nossos desafios diários exigem mais do que força técnica: exigem sustentação emocional. E quando essa sustentação falha, é como se a base tremesse por dentro, mesmo quando a fachada continua firme.
Não escrevo isso em busca de aplausos ou pena. Escrevo porque sei que muitos se sentem assim. Homens, mulheres, trabalhadores de todas as áreas: cansados de dar o melhor de si lá fora e voltar para um lar onde suas batalhas são minimizadas.
Que possamos refletir sobre isso. Que, mais do que apontar o dedo, sejamos capazes de oferecer o gesto de apoio. Às vezes, tudo que o outro precisa é daquele leve aceno de cabeça que diz: eu te vejo, eu te reconheço, eu estou contigo.
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