Por Luciano F D S Paula,
A proposta do filósofo e sociólogo Roberto Mangabeira Unger, sintetizada no projeto “União da Inteligência com a Natureza”, aponta para uma direção imprescindível ao futuro do Brasil. Como geógrafo e empreendedor comprometido com o desenvolvimento sustentável e a gestão responsável dos territórios, vejo nesta ideia não apenas uma reflexão teórica, mas uma convocação prática e urgente.
Mangabeira Unger denuncia, com razão, a dependência estrutural do Brasil em relação ao modelo extrativista: vender soja, carne e minério de ferro, enquanto se submete ao rentismo financeiro e ao assistencialismo como política social. Essa crítica precisa ser amplificada e, mais que isso, convertida em ação.
A necessária superação do primitivismo produtivo
Ao longo dos meus anos atuando na geografia acadêmica, consultoria ambiental e regularização fundiária, observei como o modelo primário-exportador restringe as oportunidades de desenvolvimento local e nacional. Uma economia focada somente na extração de recursos naturais, sem incorporar inteligência, inovação e inclusão, mantém desigualdades e prejudica o meio ambiente.
Mangabeira fala da “qualificação produtiva da capacitação” como prioridade estratégica. Concordo integralmente. O Brasil não pode continuar relegando a ciência, a tecnologia e o conhecimento tradicional a papéis secundários. Pelo contrário: é preciso colocar a pesquisa científica e a inovação a serviço de uma nova economia, baseada na valorização da natureza como aliada e não como inimiga.
Desenvolvimento sustentável como prática e não discurso
Em nossos projetos de campo, na elaboração de laudos ambientais, estudos geotécnicos e soluções para empreendimentos que buscam se adequar à legislação ambiental, percebemos que a sustentabilidade ainda é, para muitos, uma obrigação legal, e não um valor estratégico.
A proposta de união entre inteligência e natureza implica mudar essa mentalidade. Sustentabilidade deve ser compreendida como uma oportunidade de transformação produtiva, de geração de riqueza e bem-estar, e não como um custo a ser minimizado. É preciso investir na formação de capital humano, em tecnologias limpas, em cadeias produtivas que respeitem os ecossistemas e promovam a inclusão social.
Cidadania ativa e protagonismo da sociedade civil
Mangabeira é incisivo ao afirmar que não devemos esperar a ação das elites políticas, mas assumir como cidadãos a tarefa de construir um novo Brasil. Esse chamado ressoa com a minha trajetória e com aquilo que defendo: a participação ativa da sociedade civil na formulação de políticas públicas, no fortalecimento da economia local e na promoção de práticas ambientais responsáveis.
O campo técnico da geografia, da engenharia ambiental, do urbanismo, entre tantos outros, pode e deve ser um motor desta transformação. São os profissionais, pesquisadores, empreendedores e comunidades locais que podem materializar esta “união da inteligência com a natureza” por meio de projetos concretos, inovações aplicadas e novas formas de gestão territorial.
Um novo pacto desenvolvimentista: do discurso à ação
O Brasil precisa, mais do que nunca, de um novo pacto desenvolvimentista, como propõe Mangabeira. Um pacto que abandone o extrativismo predatório e abrace uma visão integrada, que combine natureza, ciência, tecnologia e cidadania.
Este não é um projeto para o futuro distante, mas para o agora. Cada área degradada que pode ser recuperada, cada território que pode ser regularizado com respeito ao meio ambiente, cada empreendimento que pode ser conduzido com responsabilidade social e ecológica, são exemplos de como este pacto pode ser tecido cotidianamente.
Como profissional comprometido com essa causa, coloco minha voz e meu trabalho a serviço dessa transformação. Não podemos mais adiar o que é urgente: construir um Brasil onde o desenvolvimento não seja sinônimo de destruição, mas de inovação, inclusão e sustentabilidade.
#Nature-based solution